As Três Marias – RACHEL DE QUEIROZ
Título original: AS TRÊS MARIAS, de 1939.
Versão lida: Em português brasileiro original, Editora José Olympio, 2017. Edição exclusiva para a caixa de assinaturas TAG.
A autora
Rachel de Queiroz (1910-2003) foi uma grande escritora, jornalista, tradutora e dramaturga brasileira. Ganhou diversos prêmios, dentre eles o “Prêmio Camões” (1993), sendo portanto, a primeira mulher a recebê-lo.
Além disso, foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, em 1977.
Dada sua importância para a literatura nacional, em 2003 foi inaugurado o “Centro Cultural Rachel de Queiroz” em Quixadá (CE), cidade em que Rachel viveu.Fonte: todamateria.com.br
O livro
A autora desse belo livro nacional tem uma linguagem extremamente sua que é instigante desde a primeira página. Por não conhecer seu trabalho, a forma como ela escreve foi uma verdadeira experiência literária em si.
As personagens centrais, apesar de pouco exploradas exceto por Guta – Maria Augusta – são distintas, únicas e muito interessantes. O ambiente onde se relacionam no primeiro ato do livro, um colégio de freiras, permite que muitas conversas sussurradas aconteçam, mas principalmente que haja muito espaço para observação por parte de Guta.
A menina, e depois jovem moça, descreve o mundo a sua volta com uma honestidade de doer, que faz a gente pensar em como o hábito de observar a vida hoje em dia nunca conta com tamanha verdade, todos acostumados a nos moldar diante das câmeras como estamos.
No segundo ato, quando Guta e suas amigas já estão crescidas e vivendo no mundo real, a ambientação continua linda, porém a narrativa toma um interesse maior em descrever suas divagações particulares e sentimentos quanto a tudo. Acho que isso casa com a ideia de estar vendo o mundo pelos olhos de uma criança, e depois de uma moça de vinte anos.
Apesar de haver muitos personagens secundários que ganham momentos de estrelato ao serem notados por Guta, sua jornada particular é o foco do livro, o que o torna ainda mais pessoal e verdadeiro. Além disso, há algo que se dizer de uma trama toda focada em mulheres que contam tudo do seu ponto de vista, numa época da vida em que havia uma certa necessidade de se questionar nosso papel na sociedade e nossa habilidade de ser mais do que nos era permitido, ainda que nada disso estivesse totalmente aberto para discussão ou mesmo que houvessem oportunidades para tal.
Assim como se pudéssemos olhar através de uma janela para o Brasil do início do século, há uma satisfação em não exatamente reconhecer a vida dos brasileiros nesse tempo, mas não necessariamente desconhecer também. Há uma familiaridade, talvez tenha sido só eu e minhas experiências particulares, que te coloca bem ao lado de Guta, tomando bondes e caminhando pelas praias desertas num Rio de Janeiro que já não vive mais do mesmo jeito.
Por se tratar de uma autora nordestina, e de personagens nordestinos, há um carinho todo especial reservado no meu coração para os cuidados que a autora tomou com manter essa identidade viva nas páginas, mesmo quando já estamos vivendo no Rio com Guta, longe de seu passado no interior do Ceará.
Esse belo clássico está muito recomendado aqui no blog, e sua leitura enriquece até mesmo, do meu ponto de vista, nossa brasilidade, coisa que nunca faz mal reforçar.
Fica aqui também uma boa referência de resenha que recomendo para complementar a análise: LINK